Durante muito tempo, se alguem me perguntasse se eu me arrependia de algo na minha vida, eu sabia a resposta exata (eu nunca consegui comprar direito essa de nunca de arrepender de nada... Tah, eu acho certo reconhecer q tudo na sua vida faz parte de vc e te forma, mas qq tem dizer q algumas coisas vc gostaria que tivessem acontecido de outra forma?)

Eu me arrependo de ter dito "nao" ao Hugo.

Quando eu tinha uns 8, 9 anos, eu fui para o Paiol Grande, uma colonia de ferias (acho q fui pra lah 3 julhos seguidos, e se nao me engano isso foi no segunda vez que eu fui). Eu tenho otimas lembrancas de lah, alguns colegas do colegio tambem iam, entao era uma mistura de passar tempo com seus velhos amigos e conhecer amigos novos. Eu lembro que ia soh um onibus do Rio, e quando chegavamos no acampanhamento, sempre jah tinham chegado uns 4 onibus de paulistas, que pulavam em cima da gente dizendo pra gente falar "porta" e depois sair gargalhando. E sempre tinha a excitacao de receber aquelas caixas enormes pelo correio, com cartas da familia e varios doces, que a gente dividia, e tinhamos q organizar nossas coisas e deixar a cama arrumada. E tinha os contos de terror da Velha da Gudeia, e os conselheiros que eram sempre muito legais, as brigas e os dramas com as meninas do mesmo chale, etc...

Eu conheci esse Hugo durante uma das gincanas. Eles basicamente dividiam aquele bando de criancas em 4 times e acho q dessa vez a gente tinha que catar uns papeis q tavam espalhados pelo acampamento pra fazer um moisaco depois. Eu lembro de achar um "ninho" de papeis e logo ver um menino se aproximando, e eu estava pronta pra berrar que tinha visto antes ou algo mais agressivo, mas logo a gente viu que era da mesma equipe e comecamos a conversar enquanto catavamos papeizinhos juntos.

Eu nao lembro agora nada de como ele era fisicamente, acho que ele era loiro e bochechudo. Mas ele usava um bone preto do "Mighty Ducks" (eu demorei pra superar esse meu gosto por meninos de bone...) e eu achava isso super legal. A gente passava um monte de tempo juntos, eu lembro de patinar com ele na quadra de esportes (eu lembro de tomar um tombo e fingir q nao tava doendo pra nao dar vexame), de dividir chocolate, de ficar sentado na arquibancada durante algum evento chato conversando. Minhas amigas zuavam que ele era meu namorado e eu ficava brava com elas. Um dia, antes do jantar, perto do campo de futebol, ele perguntou se eu queria namorar com ele e eu disse que nao, soh por que eu sabia que minhas amigas iam falar que ele era feio e eu era boba. E depois disso acho que a gente parou de se falar.

E ateh uns anos atras eu tinha plena certeza que esse era o maior arrependimento da minha vida, pq eu lembro exatamente dos meus sentimentos na hora que eu disse "nao", q eu queria muito dizer sim, e eu gostava muito dele, e eu disse que nao mesmo por puro medo da reacao das minhas amigas. Acho que nao eh a toa que na minha adolescencia uma das minhas grandes coisas era nao fazer nada soh por medo de reacao das outras pessoas (e com o tempo eu fui aprendendo q nao tem nada de errado vc se importar com a reacao das pessoas que voce ama).

Mas a vida vai em frente e eu fui criando outros grandes arrependimentos, mas acho que nenhum tao "claro" como esse, com motivos tao obvios preu ter feito o contrario.

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Acabei de ler "Ficcoes" e jah li "Historia Universal da Infamia", qual outra obra classica/famosa do Borges? Eu soh toh com o primeiro volume das obras dele aqui, os outros dois ficaram em Paris... "Historia da Eternidade" parece promissor...